O que é este blog?

Este blog trata basicamente de ideias, se possível inteligentes, para pessoas inteligentes. Ele também se ocupa de ideias aplicadas à política, em especial à política econômica. Ele constitui uma tentativa de manter um pensamento crítico e independente sobre livros, sobre questões culturais em geral, focando numa discussão bem informada sobre temas de relações internacionais e de política externa do Brasil. Para meus livros e ensaios ver o website: www.pralmeida.org. Para a maior parte de meus textos, ver minha página na plataforma Academia.edu, link: https://itamaraty.academia.edu/PauloRobertodeAlmeida;

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terça-feira, 19 de março de 2024

O czar de todas as Rússias e seu poder absoluto - Anton Geraschenko

 Putin has (re)established himself as the Russian emperor. 

Anton Geradchenko

March 18, 2024

His goal is to rule for as long as he possibly can and die his own death in this status.

From now on, Putin is the center and the foundation of all power in Russia. His system of governing has shifted from being based on competition between the different "Kremlin towers" to a "Politbureau" of a small number of people, each of whom is responsible for specific areas, experts believe. Putin holds the final decision-making power, but he won't get into details of things that do not concern his end goal - being in power for as long as he is alive.

Putin as tsar has absolute power. He expects and rewards absolute loyalty. Among other things, this means that social lifts in Russia are non-existent now. Any modernization of the system is impossible. Obedience becomes the key virtue. This will obviously lower the quality of executive decisions made on all levels.

What this might mean for Ukraine and the world?

◾️As it happened with the USSR, this system is not sustainable and will decay. However, that will not happen soon enough as Russia has a lot of resources and its people don't expect much in terms of quality of life.

◾️ The war becomes an important "component" of Putin's power and authority. He will not stop and won't care about any number of Russian losses. He must be stopped with force and power, militarily.

◾️ Putin will look for subtle(ish) ways to undermine NATO and EU as whole institutions and their member states separately. Provocations, propaganda, uncertainty, clashing groups between each other, creating discord and mistrust - these are all tried and tested Russian tools. Russia is prepared to invest huge amounts of money into that.

◾️The importance of sanctions increases further, especially in cutting Russia off from technological advances - equipment, technologies, specialists.

◾️Timely and full military and financial assistance to Ukraine is key. 

There is no time for lingering and hoping Russia will collapse on its own or something unexpected will happen that will alter the course of history. Challenging times require sturdy leaders who think strategically.

📷: Metro UK

segunda-feira, 18 de março de 2024

Venezuelanos lideram ranking global de asilados - Janaina Figueiredo O Globo

Trata-se da maior proporção de refugiados do mundo. 

Mas, como disse Lula, tudo é relativo, e depende da narrativa...


Venezuelanos lideram ranking global de asilados


Janaina Figueiredo - BUENOS AIRES

O Globo, 18 de março de 2024

 

Estima-se que 7,7 milhões de cidadãos saíram do país nos últimos anos, provocando o maior deslocamento forçado do mundo; Brasil é a terceira nação que mais recebe migrantes na região, com 128.551 refugiados, e é visto como exemplo.

 

Entre meados de 2018 e meados de 2023, dados da Agência da ONU para os Refugiados, a Acnur, indicam que 1,18 milhão de venezuelanos solicitaram asilo em outros países, superando amplamente os 324.529 afegãos, 319.170 cubanos, 217.740 nicaraguenses, 223.834 iraquianos e 160.209 sírios. Somente no ano passado, 161.700 venezuelanos pediram asilo em algum país, um crescimento de 51% em relação aos 106.900 do ano anterior. A Venezuela não está em guerra, seu governo se diz democrático e nega ter cometido ou continuar cometendo violações dos direitos políticos e humanos. Porém, 7,7 milhões de venezuelanos abandonaram sua terra natal nos últimos anos, e muitos deles recorreram a um pedido de asilo para contar com proteção internacional.

 

PROTEÇÃO INTERNACIONAL

O tema é tratado no filme Simón, lançado recentemente na plataforma Netflix e baseado na história real de um estudante venezuelano que esteve preso e foi torturado em 2014, após participar de protestos contra o governo de Nicolás Maduro. Depois de ser liberado, o personagem principal foge para os Estados Unidos, onde lida com o dilema de pedir asilo ou programar um retorno a seu país, onde ficaram vários companheiros de luta.

O direito ao asilo foi estabelecido pela Convenção das Nações Unidas relativa ao Estatuto dos Refugiados, também conhecida como Convenção de Genebra, aprovada em 1951. O texto estabelece que o refugiado é "toda pessoa que, em razão de fundados temores de perseguição devido à sua raça, religião, nacionalidade, associação a determinado grupo social ou opinião política, encontra-se fora de seu país de origem e que, por causa dos ditos temores, não pode ou não quer regressar".

Na América Latina, a Convenção foi reforçada em 1984 pela Declaração de Cartagena, que amplia o significado internacional de refugiado. Há 40 anos, foram incluídas na definição pessoas que fugiram de seus países porque sua vida, segurança ou liberdade foram ameaçadas pela violência generalizada, agressão estrangeira, conflitos internos, violações em massa dos direitos humanos ou outras circunstâncias perturbadoras.

- Não estamos em guerra, mas é como se uma bomba tivesse destruído nosso país. Na Venezuela as pessoas morrem por desnutrição, falta de medicamentos ou de recursos para pagar tratamentos. Os jovens vão embora e ficam os mais velhos e as crianças conta a advogada e defensora dos direitos humanos Lublanc Pietro, diretora da Fundação Refugiados Unidos.

 

PAÍS DESTRUÍDO

Há nove anos, Lublanc migrou para a Colômbia, onde ajuda outros compatriotas a se integrarem e conseguirem a documentação necessária para começarem uma nova vida. Alguns pedem asilo, outros, como ela, preferem uma brecha na legislação local e tramitam um documento chamado Proteção Temporária, que tem vigência de dez anos e permite que as pessoas tenham um trabalho formal. Isso porque, no país que mais recebe venezuelanos na América Latina, refugiados não podem ser contratados.

 

- Saí da Venezuela porque sou diabética e não conseguia medicamentos. Há um ano, meu irmão morreu por negligência médica num hospital público conta a advogada, que lamenta não poder solicitar refúgio, já que a Proteção Temporária não garante proteção internacional e ela poderia, eventualmente, ser deportada.

- Muitos venezuelanos, apesar de sentirem pânico pelo que viveram e terem decidido não voltar para a Venezuela, não pedem asilo aqui pois não conseguem trabalhar. Nossa luta é melhorar as condições para refugiados.

 

7,7 milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos cinco anos. Número supera o de refugiados de países em guerra.

 

Segundo uma fonte da Acnur, a proteção temporária, considerada complementar, "é eficiente em contextos de deslocamentos em grande escala". No primeiro semestre de 2023, quase meio milhão de ucranianos receberam proteção temporária, por exemplo.

O Brasil, que hoje ocupa o terceiro lugar no ranking de países para onde emigram os venezuelanos - superado só por Colômbia e Peru - , é considerado, diz a advogada, um exemplo a seguir em matéria de acolhida a refugiados. Sua opinião é compartilhada por William Clavijo, presidente da ONG Venezuela Global, com sede no Rio, que promove a integração de migrantes.

 

Entre janeiro de 2017 e o mesmo mês deste ano, 1.044.293 venezuelanos entraram no Brasil, dos quais 548.579 permaneceram no país, de acordo com dados da Operação Acolhida, implementada em 2018 pelo governo federal, em parceria com ONGs locais e internacionais, entre elas a Acnur. Do total de venezuelanos que ficaram no Brasil, 128.551 foram reconhecidos como refugiados.

 

- Sofremos a maior crise de deslocamento forçado do mundo, isso é inegável. Alguns especialistas calculam que o número de venezuelanos que saíram do país nos últimos anos já chega a quase 10 milhões - aponta Clavijo, presidente da ONG e que mora há vários anos no Rio. Muitos países se negam a criar mecanismos para regularizar a situação dessas pessoas. Mas o Brasil é um exemplo. O que faltam são políticas de apoio à integração social dessas pessoas.

 

SÓ ASILO NÃO BASTA

Quando um venezuelano solicita asilo no Brasil seu pedido é analisado pela Comissão Nacional para os Refugiados (Conare). ONGs estimam que 98% dos cidadãos que residem no Brasil estão nessa situação, sejam com residência aprovada ou status de refugiado. O problema, insiste o presidente da Venezuela Global, "é a vulnerabilidade dessas pessoas".

 

- Muitos passam fome, e há discriminação, sobretudo contra mulheres e negros.

 

Para o jovem venezuelano, que há anos promove ações para ajudar compatriotas no Rio e em outros estados, "é preciso que o mundo entenda que a situação na Venezuela não melhorou, e que por isso as pessoas não voltam".

 

- Não é suficiente estabilizar a economia, as pessoas querem poder exercer direitos políticos e ter liberdade para opinar e pensar. Existe muito temor - assegura Clavijo.

 

O país terá eleições em julho, mas a candidata favorita para enfrentar o presidente Nicolás Maduro que anunciou oficialmente sua candidatura no sábado - , é Maria Corina Machado, política conservadora que aparece à frente nas pesquisas e foi eleita de forma avassaladora nas primárias opositoras. Ela, no entanto, foi inabilitada e não poderá disputar o pleito.

 

 

A Petrobras vive de DESMENTIR notícias publicadas na mídia...

Não sou investidor da Petrobras, mas sigo todas as notícias da companhia.

Pois bem, nos últimos tempos vivemos de teorias conspiratórias...

A Petrobras vive de DESMENTIR notícias publicadas na mídia... 

PRA

Petrobras esclarece notícia divulgada na mídia

Rio de Janeiro, 18 de março de 2024 – A Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobras, em relação à notícia divulgada na mídia e conforme já divulgado em 12/03 e 15/03, reafirma ser inverídica a afirmação de que houve qualquer promessa de pagamento de dividendos extraordinários no evento realizado com analistas e investidores nos dias 30/01/2024 e 31/01/2024 (Deep Dive) realizado pela companhia.

A Petrobras reitera que o material apresentado no encontro com analistas e investidores não sinaliza o pagamento de dividendos extraordinários. A parte da apresentação que cita o processo de dividendos contém informações públicas sobre parâmetros, diretrizes e o processo que suporta as decisões de remuneração do acionista. O material está disponível no site de investidores da companhia, bem como na CVM e na SEC.

O material utilizado na apresentação ressalta que a decisão de distribuir dividendos segue o mesmo processo (framework), ao considerar diversos fatores e variáveis como resultados, condição financeira, necessidades de caixa, perspectivas de mercado atual e potencial, além de oportunidades de investimento. Manter o mesmo processo de análise de tais variáveis não configura promessa ou sinalização de pagamento, sendo que tais eventos estão sujeitos a uma série de riscos e incertezas. 

Além disso, é de conhecimento público que diversos bancos publicaram suas projeções de dividendos extraordinários antes mesmo do evento realizado em janeiro. Desde outubro de 2023, já circulam relatórios de analistas com expectativa de pagamento de dividendos extraordinários, com bases em suas próprias avaliações. Nesse contexto, importante destacar que a companhia não tem controle sobre as publicações de tais analistas, nem o conteúdo.

A proposta da Diretoria Executiva de distribuir 50% do montante que foi destinado à reserva como dividendos extraordinários foi suportada por documentos preparados pelas áreas técnicas conforme processo previsto pela governança da Petrobras. Como prática em todas as deliberações, foi apresentado, entre outras informações, o histórico de decisões realizadas nos anos anteriores. 

Os parâmetros utilizados para pagamento de dividendos extraordinários em 2022 dizem respeito às condições operacionais e financeiras da Petrobras nesse ano, bem como condições externas favoráveis, e, portanto, não constituem regra ou norma e não constam da política de remuneração ao acionista da Petrobras. Não procede a suposição ou afirmação de que o não atendimento dos referidos parâmetros em 2023 tenha sido apontado pela área técnica como impeditivo à proposta de pagamento de dividendos extraordinários, uma vez que em 2023 temos um cenário diferente.

A adoção do índice de confiança utilizado em 2022, como já referido, estava diretamente relacionada ao cenário do respectivo ano. Tal recomendação foi levada ao Conselho de Administração (CA) com as análises de diversos cenários possíveis, conforme o rito de governança previsto.

Importante destacar que a decisão sobre o pagamento de dividendos extraordinários seguiu a governança prevista. A matéria é de competência do CA da companhia, que apreciou e decidiu, no dia 07/03, sobre a proposição de dividendos à Assembleia Geral de Acionistas.


E aqui uma notícia pronta para ser desmentida:


A boquinha e a fome: as estatais e seus conselhos - Bruno Carazza (Valor)

A boquinha e a fome: as estatais e seus conselhos 

Bruno Carazza*

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Valor Econômico, segunda-feira, 18 de março de 2024

Conselhos de administração de empresas atendem a diversos interesses no governo

A semana passada foi repleta de episódios envolvendo a governança corporativa de estatais e de empresas privadas nas quais a União ainda detém algum tipo de ingerência, mesmo que indiretamente.

O retorno de Lula ao poder representou a retomada da visão de que as estatais têm um papel estratégico na promoção do desenvolvimento nacional. Nesse sentido, a nova administração da Petrobras tem sinalizado com a ampliação de seu plano de investimentos e novas diretrizes a respeito de refino, distribuição de combustíveis e transição energética. O episódio mais recente dessa história se deu na atual crise sobre os dividendos.

Se uma mudança de rumos em relação à administração anterior é válida e legítima, ela não deve ser feita à revelia dos demais sócios privados da empresa. Assim, todas as decisões da Petrobras que possam afetar a distribuição de dividendos aos acionistas precisam ser comunicadas com muita transparência, para se evitar as turbulências que vimos no preço das suas ações na última semana.

Em resposta à crise do Petrolão, o governo aprovou a Lei nº 13.303/2016, para reforçar a estrutura corporativa das estatais e torná-las mais resistentes à interferência política. No entanto, num de seus últimos atos no Supremo Tribunal Federal, o atual ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, suspendeu muitas das suas determinações numa canetada. Quem semeia vento colhe tempestade, como estamos vendo agora.

Situações ainda mais graves, porém, são as insinuações de interferência política do processo sucessório na Vale, apresentadas na carta de renúncia do conselheiro independente José Luciano Penido, e as pressões de Lula para emplacar Guido Mantega primeiro na própria Vale e, mais recentemente, na Braskem.

Por se tratar de empresas privadas, nas quais a União não detém o controle direto, a intromissão do governo nas suas decisões extrapola os limites da opção estratégica desenvolvimentista.

Em 2011, o pesquisador Sérgio Lazzarini publicou um livro demonstrando, com fartura de dados, as relações umbilicais entre as grandes empresas brasileiras e o Estado. “Capitalismo de Laços” explicita como o BNDES e outros bancos oficiais, as maiores estatais e os fundos de pensão de seus empregados constituem uma teia de participações societárias cruzadas que se espalha pelo tecido dos maiores símbolos do setor privado nacional.

A se pautar pelas manchetes da última semana, o governo Lula está mais do que disposto a estender seus laços sobre o mercado brasileiro.

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Embora pouco se comente a respeito, a distribuição de vagas nos conselhos de estatais também está no centro da crise envolvendo a diretoria e o sindicato dos servidores do Banco Central e o governo Lula.

Os pagamentos feitos pelas estatais aos membros de seus conselhos (os famosos jetons) sempre foram uma forma de complemento salarial bastante generosa que atende a diversos fins: atração de profissionais do mercado para colaborarem por um tempo no governo, premiação à dedicação de alguns servidores públicos e remuneração extra para quadros partidários do governo de plantão.

Segundo dados do Portal da Transparência, durante o exercício financeiro de 2023, 76 empresas estatais distribuíram R$ 16.572.796,30 para 590 servidores públicos e ocupantes de cargos comissionados a título de jetons.

Para ficar apenas nas indicações técnicas, diversos integrantes da cúpula do Ministério da Fazenda fizeram jus ao recebimento de jetons de estatais no ano passado: o chefe de gabinete, Laio Morais (R$ 65.075,34), o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello (R$ 47.390,78), o secretário do Tesouro, Rogério Ceron (R$ 47.295,88), e o secretário-executivo adjunto, Rafael Dubeux (R$ 42.404,88).

Os pagamentos de jetons também agraciaram dezenas de servidores de carreiras dos ministérios da Fazenda e do Planejamento - alguns deles chegaram a engordar seus contracheques em até R$ 106.842,97 em 2023.

Não há nada de errado e muito menos de ilegal nesses pagamentos. O problema é que, no contexto de tratamentos diferenciados dispensados pelo governo federal na política salarial, essa questão dos jetons gera ainda mais distorções entre as carreiras.

No caso específico do Banco Central, em função da legislação sobre conflitos de interesses, diretores e servidores da instituição não podem integrar o conselho de instituições públicas ou privadas. A regra faz todo o sentido, pois decisões sobre crédito ou taxas de juros afetam as estratégias de empresas que atuam no mercado, e por isso não seria salutar que um integrante do Bacen fizesse parte de seu corpo de aconselhamento.

A norma, contudo, gera um efeito colateral. Os diretores e técnicos do Banco Central não deixam nada a desejar em preparo técnico a um alto dirigente do Ministério da Fazenda ou um servidor qualificado do Tesouro Nacional ou da Receita Federal. No entanto, por não poderem ser contemplados com os jetons das estatais, os integrantes do Bacen acabam se sentindo preteridos em relação a seus pares.

Na elite do funcionalismo, quanto mais o governo procura agraciar uma carreira com penduricalhos como honorários, bônus e jetons, mais desagrada às demais.

*Bruno Carazza é professor associado da Fundação Dom Cabral e autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras)”. 


A Discourse by Three Drunkards on Government - Nakae Chomin

 


A Discourse by Three Drunkards on Government

By Nakae Chomin

Translated by Nobuko Tsukuba

Boston: Shambhala Publications, 1984 (9th printing, 2015)

Um livro curioso, escrito por um cientista político do inicio da era Meiji, Nakae Chomin, que teve um papel preeminente nas reformas daquele período, com base na sua cultura francesa – ele era chamado de "Rousseau do Oriente – e na sua adesão aos princípios do governo constitucional, com amplas liberdades para a livre expressão do pensamento. 

Foi censurado diversas vezes, dado o autoritarismo dos governos da era Meiji, e vários dos seus jornais foram fechados pelas autoridades da vigilância política. Ainda assim foi eleito para o Parlamento, mas renunciou quando constatou que pouco poderia fazer para levar o Japão a uma situação de governo democrático, não militarizado e não autoritário.

Os três "bêbados" consistem no Mestre Nankai, e dois interlocutores, um, de modos e pensamento europeus, por ele chamado de Gentleman, o outro de tendências militaristas, dito Champion. Ele trocam opiniões sobre como seria melhor o Japão se preparar para sustentar os desafios externos.


Eles bebem e trocam ideias sobre o que o Japão deveria fazer para se defender das potências agressoras mais avançadas, e também sobre como ele poderia se organizar internamente para conquistar a democracia e os princípios constitucionais dos países mais avançados do Ocidente.

O autor cita todos os filósofos europeus, os pensadores mais respeitados no mundo, na esperança de que o Japão caminhasse pela via do governo democrático.

Depois de muita conversa, e muita bebida, os dois visitantes se despedem. Dez dias depois, Mestre Nankai completou o seu livro:

"The two guests never returned. According to rumor, the Gentleman of Western Learning went to North America and the Champion went to Shanghai. Master Nankai, as always, keeps drinking." (p. 137)

Paulo Roberto de Almeida

Brasília, 18 de março de 2024




ABRI: 12º Concurso Nacional ABRI de Dissertações e Teses Universitárias em Relações Internacionais - Prêmio Professor Marcos Costa Lima

 Estão abertas até o dia 12 de abril as incrições para o 12º Concurso Nacional ABRI de Dissertações e Teses Universitárias em Relações Internacionais - Prêmio Professor Marcos Costa Lima.

O Concurso Nacional ABRI de Dissertações e Teses Universitárias em Relações Internacionais visa incentivar a produção científica e cultural no país e assegurar a difusão de trabalhos de excelência acadêmica e intelectual junto à comunidade e ao público em geral. O concurso está aberto a todas as autoras/es de dissertações de mestrado e teses de doutorado que se situem na área de Relações Internacionais, desde que não tenham sido publicadas por editora comercial, que tenham sido defendidas no ano de 2023.

Neste ano o Prêmio acolherá propostas de Dissertações e Teses de Centros de Pesquisa e Programas de Pós- Graduação vinculados à área de Ciência Política e Relações Internacionais da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) do Ministério da Educação.

O resultado do Concurso será divulgado durante a Assembléia do 7º Seminário de Graduação e Pós-Graduação em Relações Internacionais da ABRI a realizar-se na UFRGS, em Porto Alegre.  

OBS: NÃO SERÃO ACEITAS PROPOSTAS INCOMPLETAS. TODA A DOCUMENTAÇÃO EXIGIDA DEVERÁ SER ENVIADA JUNTAMENTE COM O FORMULÁRIO DE INSCRIÇÃO DEVIDAMENTE PREENCHIDO.

Para acessar o edital, clique aqui.

Para acessar o formulário, clique aqui.

Adam Tooze repercute matéria sobre o dilema brasileiro em relação à China

 "Brazil’s industry ministry has launched a number of investigations into the alleged dumping of industrial products by China as Latin America’s largest economy reels from a wave of cheap imported goods. China’s exports grew 7.1 per cent in the first two months of this year, far outpacing growth in imports. “Prolonged declines in China’s export prices may cause trade tensions between China and some major economic powers to rise,” analysts at Nomura said in a research note on Friday. China’s exports to and imports from Brazil both rose by more than a third in the first two months of the year, according to Chinese customs data. The trade tensions create a dilemma for leftwing president Luiz Inácio Lula da Silva, who has sought to both nurture relations with Beijing and protect and develop Brazil’s national industries."

Crises dos grandes bancos, e o salvamento com dinheiro do contribuinte - Tobias Adrian e Marc Dobler (Blog do FMI)


More Work is Needed to Make Big Banks Resolvable

image of high rise office buildings, shot from ground level up

(Credit: Seibertfilm/iStock by Getty Images)

By Tobias Adrian and Marc Dobler

Almost a year ago, Credit Suisse, a globally systemic bank with $540 billion in assets and the second-largest Swiss lender, founded in 1856, failed and was sold to UBS. In the United States, Silicon Valley BankSignature Bank and First Republic Bank failed at around the same time amid Federal Reserve interest rate hikes to contain inflation. With a combined $440 billion of assets, these were the second, third, and fourth biggest bank resolutions since the Federal Deposit Insurance Corporation was created during the Great Depression.

This banking turmoil represented the most significant test since the global financial crisis of ending too-big-to-fail—whereby a systemic bank can be resolved while preserving financial stability and protecting taxpayers.

So, what’s the verdict? In short, while significant progress has been made, further work is required.

On the one hand, as we note in a recent report, the actions of authorities last year successfully avoided deeper financial turmoil, and the financial soundness indicators for most institutions signal continued resilience. In addition, unlike many of the failures during the global financial crisis, this time significant losses were shared with the shareholders and some creditors of the failed banks.

However, taxpayers were once again on the hook as extensive public support was used to protect more than just the insured depositors of failed banks. Amid a massive creditor run, the Credit Suisse acquisition was backed by a government guarantee and liquidity nearly equal to a quarter of Swiss economic output. While the public support was ultimately recovered, it entailed very significant contingent fiscal risk, and created a larger, more systemic bank. Use of standing resolution powers to transfer ownership of Credit Suisse, after bailing in shareholders and creditors, rather than relying on emergency legislation to effect a merger would have seen Credit Suisse shareholders fully wiped out and potentially less public support extended. We expect to learn more in the coming days when a Swiss report on the too-big-to-fail regime is issued.

In the United States, in addition to easing collateral requirements for liquidity support, the authorities cited systemic concerns to invoke an exception allowing protection of all deposits in two of the failed banks. This significantly increased costs for the deposit insurer which will need to be recouped from the industry over time. Even very large and sophisticated depositors were protected—not just the insured.

What we’ve learned

Intrusive supervision and early intervention are critical. Credit Suisse depositors lost confidence after prolonged governance and risk management failures. In the US, the failed banks pursued risky business strategies with inadequate risk management. Supervisors in both cases should have acted faster and been more assertive and conclusive. Our recent review of supervisory approaches found that the ability and will to act remain critical—and can suffer from unclear mandates or inadequate legal powers, resources, and independence as well as powerful financial sector lobbies. Policymakers need to better empower banking supervisors to act early and with authority if needed.

Even smaller banks can be systemic. Supervisory and resolution authorities should ensure sufficient recovery and resolution planning for the sector. This should include banks that may not be systemic in all circumstances but could be in some. This was a key recommendation of our latest Financial Sector Assessment Program for the US.

Resolution regimes and planning need sufficient flexibility. Policymakers should ensure resolution rules and plans are flexible enough to balance financial stability risks and taxpayer interests. Government support may still be required in some circumstances—for example, to avoid a systemic financial crisis. IMF staff recommended the equivalent of a systemic risk exception for the euro area, for example. While authorities should continue pursuing plan A, they need the flexibility to depart and from, and for example combine different resolution tools, as necessitated by the specific circumstances at the time of failure.

Liquidity in resolution is crucial. Banks typically fail because creditors lose confidence, even before the balance sheet reflects potential losses. Rebuilding capital buffers in resolution may not be sufficient on its own to restore confidence. Authorities must make further progress on how quickly banks heading into resolution could receive liquidity support—including prepositioning of collateral and testing preparedness—while still protecting central bank balance sheets.

Authorities in many countries need to strengthen deposit insurance regimes—as we recommended to Switzerland. New technology like 24/7 payments, mobile banking, and social media have accelerated deposit runs. Last year’s failures followed rapid deposit withdrawals, and deposit insurers and other authorities should be ready and able to act more quickly than many currently can. The US banks that failed were outliers—with balance sheets that had grown very rapidly, funded by a high degree of uninsured deposits. Where wider coverage is being considered, it would need to be adequately funded. Particularly in countries with deposit insurance that is not backed by a sovereign with deep pockets, policymakers should be careful not to overextend deposit insurance coverage. If not backed by a commensurate rise in deposit insurance funding, depositors could quickly lose confidence.

chart showing the size of deposit outflows in banks that failed in 2023 versus those that failed during the global financial crisis

The bottom line is that progress has been made, but there is still further to go in putting an end to too-big-to-fail. Last year’s bank failures provided a valuable check on the progress that policymakers are making on the reform agenda and to set course for the remaining ground to be covered.

IMF staff are working actively to support efforts in member countries to strengthen their supervision, resolution, liquidity assistance and deposit insurance frameworks including through FSAPs, technical assistance. We are also contributing to policy formulation at the international level, including a recently announced review of the international deposit insurance standard, and by earlier this year hosting with the Financial Stability Board a workshop for policy makers on the use of transfer powers in resolution.

—See the recent Global Financial Stability Note, The US Banking Sector since the March 2023 Turmoil: Navigating the Aftermath, for more analysis of affected banks and a deeper discussion of remaining vulnerabilities.


 

"Espionner, mentir, détruire. Comment le cyberespace est devenu un champ de bataille" - Martin Untersinger (Le Monde)

Comment la France a découvert une cyberattaque de haute volée et démasqué la Russie : extraits du livre « Espionner, mentir, détruire »

Martin Untersinger, journaliste au service Pixels du « Monde », publie, le 20 mars chez Grasset, « Espionner, mentir, détruire. Comment le cyberespace est devenu un champ de bataille ». Il y raconte la guerre désormais ininterrompue que se livrent les grandes puissances dans l’univers numérique. 

Le Monde, 18 Mars 2024


https://www.lemonde.fr/pixels/article/2024/03/18/comment-la-france-a-decouvert-une-cyberattaque-de-haute-volee-et-demasque-la-russie-extraits-du-livre-espionner-mentir-detruire_6222648_4408996.html?lmd_medium=pushweb&lmd_campaign=pushweb&lmd_titre=comment_la_france_a_decouvert_une_cyberattaque_de_haute_volee_et_demasque_la_russie_extraits_du_livre_espionner_mentir_detruire&lmd_ID=6222714

Bonnes feuilles. Ce 14 décembre 2022, [Guillaume Poupard] est las. Les traits tirés derrière son costume gris, il est auditionné par les députés pour la dernière fois. Dans deux jours, il quittera ses fonctions de directeur de l’Anssi [l’Agence nationale de sécurité des systèmes d’information, organisme chargé de la protection numérique de l’Etat]. Mais il a un ultime message à faire passer. Un refrain qu’il a souvent entonné mais qui n’imprime pas. Ou pas assez. Alors, il se lance dans une longue tirade.

« Il y a une menace dont on parle très peu car elle est très dérangeante. C’est celle de l’espionnage. Les victimes n’ont pas envie d’en parler, les attaquants encore moins. On est condamnés à dire que c’est très grave sans pouvoir donner beaucoup de détails, mais sachez que la pression qui est mise sur notre économie, sur nos institutions et sur nos administrations est absolument colossale. Face à nous, on a affaire à des Etats qui ont bien compris que l’information se trouvait au fin fond des systèmes informatiques et que la manière la plus rapide et la moins risquée d’aller chercher l’information la plus sensible, c’était l’attaque informatique. Je suis incapable de vous faire un bilan des conséquences de cet espionnage. En mettant bout à bout ce que j’ai eu à connaître, ça donne froid dans le dos. En termes d’impact économique, mais aussi en termes d’impact sur notre sécurité nationale. Nos adversaires savent où il faut attaquer. Cet espionnage est massif, il nous coûte très cher et il nous met probablement en danger. »

En quelques phrases, Guillaume Poupard a décrit les caractéristiques de l’espionnage informatique contemporain : omniprésent, ultra-sophistiqué, inlassable et extraordinairement difficile à repérer. A l’époque [des piratages] de Bercy, d’Areva ou de Safran, les Chinois ne se cachaient pas. Ils n’en avaient pas besoin, tant les défenses étaient abaissées. Désormais, c’est une autre histoire. Les espions sont de plus en plus nombreux, infiniment talentueux, repoussant les limites de ce que l’on pensait possible.



Call For Papers: Comparative Empire: Conflict, Competition, and Cooperation, 1750-1914 - Global Nineteenth-Century Studies

 Creio que até um império luso-brasileiro, com capital no Rio de Janeiro, como imaginado, ou desejado por alguns estadistas luso-brasileiros (inclusive José Bonifácio e Hipólito da Costa) poderia entrar nessa iniciativa de estudos especiais sobre os impérios (nem citam Portugal ou Espanha).

Greetings Paulo Roberto Almeida,
A new Announcement has been posted in H-LatAm.

Message from a proud sponsor of H-Net:

inteligência artificial: um novo mundo, uma nova linguagem que se abre à humanidade - Silvio Meira

DO MAUR´ICIO DAVID:

 

Conheci o Silvio Meira através do meu então amigo Roberto Mangabeira Unger, professor da Harvard University, de quem fui, a seu convite, Secretário-Geral do Instituto Desenvolvimento com Justiça que junto criamos em 2001. Sonhávamos, quando criamos este Instituto, com a possibilidade de construção de um Brasil melhor, mais justo e mais humano. Tempos depois (na verdade, anos depois...) o Mangabeira foi convidado a assumir a Secretaria/Ministério de Assuntos Estratégicos da Presidência da República e, criador de utopias que é, liderou a preparação de um grande projeto para pensar o Brasil e, em dado momento, organizou aqui no Rio (no Copacabana Palace, o Mangabeira sempre pensa grande...), um colóquio para debater algumas das idéias-chave com que vinha trabalhando. A esta altura, já de volta ao BNDES depois de passar um tempo na CEPAL, em Santiago do Chile, fui convidado pelo Mangabeira para participar desta reunião, da qual o Silvio Meira participou também como conferencista. A esta altura eu já ouvira falar dele e tivera oportunidade de ler alguns dos seus trabalhos. Ouvi com atenção então as palavras do Silvio Meira. Agora, acabo de receber cópia desta entrevista dele, publicada em forma digital no dia de hoje . É de arrepiar esta entrevista do Silvio Meira, o maior futurólogo brasileiro, cientista-chefe da tds.company, professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco e um dos fundadores do Porto Digital, o centro de excelência em inovação do Recife. Pena que, próximo do ocaso da minha vida, não poderei viver este futuro utópico que Silvio Meira sinaliza. Resta-me a esperança de que os meus netos (e futuros bisnetos...) o possam ( quiçás os meus filhos e noras, talvez), bem como alguns dos meus contados leitores...

E deixo-lhes a leitura desta entrevista, talvez inspiradora para este final-de-semana...

MD

 

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Silvio Meira: “Estamos na era da pedra lascada da IA, mas o futuro chega em 800 dias”

 

Daqui a 800 dias, a inteligência artificial atingirá a complexidade da filosofia. Não são meses nem semanas. São dias. Isso significa que os líderes empresariais que ficarem esperando para ver se “esse negócio de IA” vai dar certo, daqui a três anos não vão mais conseguir entender o cenário competitivo. Vai ser tudo rápido demais. A profecia é de Silvio Meira, o cientista-chefe da tds.company, professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco e um dos fundadores do Porto Digital, o centro de excelência em inovação do Recife. Silvio também está no conselho de empresas como o Magazine Luiza, MRV, Tempest e CI&T. “Entre a escrita Linear B (a forma mais antiga do grego que se conhece) e Platão, demorou 1.200 anos,” diz Meira“Entre a Inteligência Artificial online e o equivalente a um Platão contemporâneo, vai levar alguma coisa como 1.200 dias. Não é 1.200 meses, nem 1.200 semanas. É 1.200 dias.” Já estamos por volta do dia 400, levando em conta o lançamento do ChatGPT. Um lançamento épico, que já entrou para a História como o sistema de informação que mais rápido atingiu 100 milhões de usuários. “100 milhões de pessoas fazendo sabe o quê? Treinando um sistema de informação. De graça,” diz Silvio. Mesmo com a IA já tendo caminhado um terço da escala imaginada por ele, Silvio mesmo diz que estamos ainda na idade da pedra lascada da IA. Quando o ChatGPT foi lançado, o modelo era capaz de processar 4 mil tokens. O token é uma medida que define a quantidade de informação à qual o modelo de IA pode prestar atenção de forma a manter uma interação coerente com as pessoas. Mais recentemente o Google lançou o Gemini, com capacidade de 700 mil tokens. É token suficiente para processar 60% de toda a Enciclopédia Britânica. Até 2030, Meira diz que serão bilhões de tokens, capazes de entender todo o conteúdo em português criado no mundo em todos os tempos. E em 2040, serão trilhões de tokens. Enquanto isso, as empresas ainda precisam entender o básico: a inteligência artificial não é uma ferramenta. Ela é uma extensão da inteligência, e isso significa que as pessoas não podem ser substituídas. Também vai significar uma transformação dos negócios, a ponto de criarmos o mercado de uma só pessoa. Silvio não mede as palavras para fazer seu ponto. Nem com as pequenas… “Se você é uma empresa pequena e não está usando a inteligência artificial que está na nuvem que é aberta, que não vai lhe dar trabalho de treinamento, de configuração, de segurança, você é um idiota.” Nem com as grandes… “Se você é uma grande empresa, um banco, uma grande rede de varejo, grande negócio de finanças, grande sistema universitário e você está usando um negócio de Inteligência Artificial que está na nuvem, você é um idiota também.” É difícil entender, mas Silvio usa até as carroças para tentar explicar tudo nesta conversa com o Brazil Journal. Qual tem sido a reação mais recorrente das pessoas à inteligência artificial? Susto combinado com histeria. De fora da área de computação, todo mundo achando que houve um big bang. Mas para quem acompanha de perto, esse assunto está sendo falado pelo menos nos últimos 20 anos. O que estava faltando era talvez o que a gente pudesse chamar de cola, do ponto de vista científico. Como se fosse uma amarração. Computação já estava nas empresas desde a década de 50 e do ponto de vista da sociedade em geral ela passou 45 anos escondida. Quando que a computação aparece para as pessoas? Em 1995. Por quê? Porque publicou-se o código na internet. A internet não é um ambiente de comunicação. Ela é um ambiente de conectividade, que habilita você a publicar código na internet. Muitos algoritmos ao mesmo tempo. E aí o que a gente viu em 2022 foi a publicação de Inteligência Artificial online que levou ao sistema de informação que teve mais rápido 100 milhões de usuários em toda a história do universo. 100 milhões de pessoas fazendo sabe o quê? Treinando um sistema de informação. Vou dizer de novo, não é usando esse sistema. É treinando. E de graça. E depois você mandou as pessoas pagarem para treinar um sistema que vai ser usado depois. Nós estamos numa espécie de idade da pedra lascada da computação inteligente. Não parece tão primitivo assim. Vou fazer um paralelo com a escrita. O que a gente conhece como alfabeto, não com hieróglifos e coisas parecidas, tem 3.500 anos. E depois evoluiu para a Linear B. Entre a linear B, em 1.500 antes de Cristo, e Platão demorou 1.200 anos. Mas entre a Inteligência Artificial online e o equivalente a um Platão contemporâneo, vai levar algo como 1.200 dias. Não é 1.200 meses nem 1.200 semanas. É 1.200 dias! Estamos chegando num ponto onde eu posso chegar para uma inteligência artificial e dizer, “faça uma teoria para mim, para isso, para esse cenário aqui e faça uma teoria que serve para esse tipo de objetivo.” E ela faz. Entendeu? Isso é uma coisa que não se esperava que tivesse acontecendo agora e aí sim, tem uma surpresa, até para o pessoal da área. Que conhece esse assunto há muito tempo. Tem um ‘puta que pariu’ aqui. Mas temos a questão dos erros, das alucinações. Isso vai acabar então? Os erros não vão acabar e justamente eles vão criar um conjunto muito grande de oportunidades para evolução. A gente nunca vai ter um modelo capaz de entender um universo como um todo, isso é computacionalmente impossível. Não tem essa história de vamos fazer um troço que entende o mundo todinho e nos diz a resposta para o sentido da vida. Mas vai fazer com que a gente continue evoluindo em larga escala e numa velocidade que talvez a gente nunca tenha visto. Isso está acontecendo com o Gemini, do Google? O ChatGPT saiu tão na frente e saiu tão do nada que ninguém esperava que aquilo acontecesse. O que aconteceu é que a Microsoft pulou direto na oportunidade, foi lá e botou US$ 10 bilhões em um movimento defensivo. Só para a gente lembrar, lá no começo, a Microsoft fez a mesma coisa com o Facebook, ela olhou assim e pensou eu nunca vou fazer isso então eu vou entrar aqui. Ela comprou uma cláusula de bloquear investimentos de outros. Ninguém pode comprar Facebook porque a Microsoft não deixaria, ela tem uma opção de compra para ela mesmo. E ela fez a mesma coisa com a OpenAI. E aí o que aconteceu com Google, Facebook, Apple? Eles têm que lançar alguma coisa. No caso do Google, isso é ainda mais dramático porque muda o seu modelo de negócio. Imagina você e eu fazendo a seguinte pergunta: Me explica a história das línguas escritas. O Google me responde com 50.000 links. O ChatGPT me explica a história das línguas escritas em uma resposta. Mas em que ponto estamos na sua escala de evolução da IA? Nós estamos alguma coisa como 400 dias depois do ponto de partida. E ainda estamos confundindo um bocado de coisa, a começar pelo que é inteligência humana. Até bem pouco tempo, tínhamos duas dimensões dessa inteligência da sociedade: a inteligência de cada um de nós e a inteligência social, que é a inteligência dos grupos ou de rede de pessoas. E aí vem a inteligência artificial. Ela não é uma tecnologia. Ela não é uma plataforma. Ela é uma nova dimensão da inteligência, e eu acho que as pessoas estão se perdendo aqui ao achar que tem uma ferramenta em que você bota os processos como eles já existem. Não. A gente agora tem um outro conjunto de inteligências a nosso dispor, se a gente assim quiser, que além de ser cada um de nós e nós em rede, são agentes inteligentes e desincorporados. Onde estamos é só o começo. Porque o que define a competência desses agentes inteligentes é uma medida chamada tokens por interação. Qual é a quantidade máxima de informação à qual o modelo pode prestar atenção de forma coerente, que mantém um fluxo de informação como se duas pessoas estivessem conversando? Estamos hoje em milhares de tokens por interação. A versão atual de Gemini, a paga, trabalha com 700 mil tokens. Em um ano e meio evoluímos para centenas de milhares de tokens. Se você for ver o que Gemini é capaz, ele é capaz de fazer coisas do outro mundo. Mas estou falando do outro mundo mesmo, comparado com o que o ChatGPT faz. Por quê? Porque a zona de atenção dele é muito maior. Ele processa um conjunto muito maior de dados. A zona de contexto informacional é do tamanho de 60% da Enciclopédia Britânica inteira. Nós estamos falando de 40 milhões de palavras. E estamos indo para um modelo de bilhões de tokens onde ele captura quase toda a informação relevante já produzida pela humanidade. Então o contexto conversacional com esses modelos, por exemplo, ali no fim da década, olhando para 2030, essa inteligência vai estar acessível no interface conversacional, não é no laboratório da Nasa ou da Google ou da Microsoft. Então você vai ter o equivalente, por exemplo, a toda a literatura em língua portuguesa, tudo que os jornais já publicaram, tudo que já foi feito em português no mundo inteiro vai estar disponível no interface conversacional para você elaborar coisas com ela. No médio prazo, nós estamos falando de 2040, vai haver modelos que lidam com trilhões de tokens por interação. Esses modelos vão começar a fazer completamente sozinhos os modelos de mundo. E na medida em que o mundo for mudando ao redor deles, eles vão estendendo não probabilisticamente, ou seja, eles não vão chutar as respostas com uma certa probabilidade, eles vão mudar as regras, eles próprios, para entender o que é esse novo mundo que está lá fora. E como as empresas estão lidando? As empresas tendem a simplificar dramaticamente a IA e começam a ter uns problemas não triviais. Quer ver um? O chatbot habilitado por Inteligência Artificial da Air Canada. Ele foi colocado online para tirar pessoas da frente de atendimento e reduzir custos de atendimento 24 horas. O que fez o chatbot? Pariu, do nada, uma política de reembolso para um cliente. E o cliente exigiu o cumprimento. A causa foi parar na Justiça e a Air Canada alegou que foi um erro de sistema. A Justiça disse que não tem nada de erro de sistema, que a empresa botou o robô no ar e tinha que pagar ao cliente, de acordo com a política de reembolso que o chatbot criou. Qual é o problema? O problema é que a empresa não entendeu o que é a IA. Se você resolver botar na linha de frente um robô, de repente, o cliente vai fazer perguntas que podem levar a respostas completamente estapafúrdias, pelas quais o negócio vai ser responsabilizado. As empresas não entenderam que você não está olhando para algum ambiente de processamento de informação clássico, que é determinístico como quando você bota o CRM, um sistema de estoque ou de logística em que você escreve algumas regras para esse comportamento digital. O que a gente está falando aqui agora é um sistema que você não sabe a priori o que ele vai responder. Eu mesmo tenho vários agentes inteligentes – robozinhos que eu criei – que escrevem texto, e um deles é especialista em Direito. Outro dia ele me surpreendeu criando um pedaço da Constituição Brasileira. Eu tinha entregue a ele a Constituição todinha – e mesmo assim ele inventou um trecho. Então tem uma diferença fundamental aqui. Isso não é um sistema de informação exato, é um sistema de informação criativo e esse problema da criatividade é o que vai fazer a diferença. Os líderes empresariais devem estar todos de cabelo em pé sem saber o que fazer. A oportunidade agora não é você dizer, ‘eu vou demitir o meu call center e botar um agente IA.’ Muito longe disso. A oportunidade agora é descobrir como eu posso usar pessoas e agentes inteligentes em redes. Não substituir trabalhos repetitivos cognitivos por IA. Isso pode aumentar a complexidade dos problemas das empresas. A questão é expandir a inteligência. Porque se for uma substituição simples, o próprio CEO poderá ser substituído em algum momento. Este é um ponto que deixa todo mundo nervoso, já que a IA substitui um nível técnico mais elevado. Não estamos falando do chão de fábrica como em outras revoluções tecnológicas, não é? O que a gente descobriu é que o funcionário de chão de fábrica é muito difícil de ser substituído. Por exemplo, o motorista nas ruas de Nova Déli ou na periferia do Rio de Janeiro, São Paulo e Recife. Essas pessoas são extremamente difíceis de serem substituídas. Por quê? Porque elas trabalham com o contexto mutante e muito difícil de ser codificado. Imagina você ser um carro autônomo na Maré, no Rio de Janeiro, ou no Complexo do Alemão… É totalmente diferente das ruas, das cidades, do interior da Alemanha, onde tudo é previsível. Todas as placas de trânsito têm o mesmo tamanho, e inclusive ficam na mesma altura. Mas em que contexto as empresas vão usar a IA? A gente vai começar a usar a inteligência artificial para criar mercados de uma pessoa. Eu vou conseguir capturar tanta informação sobre a pessoa e manter essa informação coerente com um discurso interativo, que eventualmente cada pessoa poderá ser tratada como um mercado de propósito específico. Não haverá mais categorias “professores universitários que têm 70 anos”. Vai ter a categoria Silvio Meira. E o tipo de atendimento que eu vou ter é totalmente diferente do tipo de atendimento que outro professor de computação – que também tem 70 anos e mora no Recife no mesmo bairro que eu – vai ter. Eu tenho uma lei para empresas e nuvens. Se você é uma micro pequena e média empresa e você não está na nuvem você é um idiota. Se você é uma empresa grande ou gigantesca, e você está numa nuvem pública de alguém, você também é um idiota. Tem uma coisa aí básica que é o seguinte: se você é uma empresa pequena e resolve processar a sua própria informação, você é um idiota completo, está perdendo tempo com um negócio que é totalmente irrelevante para você. Mas se você é um negócio que faz milhares ou milhões, dezenas de milhares, milhões de transações por dia na nuvem, você é um idiota porque você está jogando fora uma oportunidade de negócio, não só de você participar da nuvem com essas empresas ou fazer serviço para essas empresas que são menores, de pequeno porte. Para a inteligência artificial é a mesma coisa. Se você é uma empresa pequena e não está usando a inteligência artificial que está na nuvem aberta, que não vai lhe dar trabalho de treinamento, de configuração, de segurança, você é um idiota. Se você é uma grande empresa, um banco, uma grande rede de varejo, grande negócio de finanças, grande sistema universitário e você está usando um negócio de Inteligência Artificial que está na nuvem, você é um idiota também. Por quê? Porque isso tem custo de transação. Você paga por token consumido e produzido nas interfaces. As empresas no Brasil estão efetivamente fazendo alguma coisa ou só olhando por enquanto? Tem muita gente fazendo muita coisa. Todas as empresas onde eu estou no conselho estão trabalhando com modelos de Inteligência Artificial, seja design de soluções, seja na entrega das soluções, seja no desenvolvimento de soluções. Não tem ninguém parado não. Mas o ambiente que eu estou vendo em todos os lugares, onde está sendo feito de maneira responsável, é de aprendizado, de experimentação e de uso com cautela, para ver como esses modelos se comportam do ponto de vista de três coisas: de eficácia, se resolve ou não resolve o problema sem criar um outro problema; de eficiência, resolver muito mais rapidamente; e de economia, custo. Mas o fato é, quem estiver parado agora esperando para ver se essa coisa vai funcionar no futuro, achando que agora a IA não resolve nada para sua empresa e vai dar uma olhada só daqui três anos, aí sim, esses têm um problema porque lá na frente vão ter que dar saltos de anos e não vão conseguir entender o cenário competitivo. Se já é difícil entender agora.. É isso. Do jeito que está, já é complicadíssimo. Daqui para frente, vai ficar muito mais complicado. As empresas, de todos os portes e todos os mercados, que vão ter mais sucesso com inteligência artificial são aquelas que vão entender que inteligências artificiais não vieram para substituir pessoas, mas para trabalhar junto com pessoas e grupos de pessoas em prol de modelos de negócios de resolução de problemas. Se eu posso fazer com que cada pessoa trabalhe por dez, eu tenho que ir atrás de 10 vezes mais mercado – e não demitir. Se eu demitir as pessoas do call center, tenho que contratar TI para operar a inteligência artificial que vai conversar com os clientes. Quem souber dar esse salto para o futuro usando Inteligência Artificial para empoderar, para estender, para aumentar a capacidade e o alcance das suas pessoas – mudando também simultaneamente o nível das pessoas – vai sobreviver lá na frente. O que nós estamos falando agora é de sobreviver. Só para comparar, algumas empresas que digitalizaram seus modelos de negócio nos últimos 25 anos quebraram. Por que fizeram o quê? Pegaram o modelo de negócio analógico e botaram só uma capa digital. Às vezes só fica mais caro de executar o modelo de negócio. As que sobreviveram, cresceram e se tornaram gigantes foram aquelas que transformaram o modelo de negócio. Você pega o Magazine Luiza, onde eu estou no conselho. Lá em 2011, a empresa começou o processo de transformação digital. Transformou funções, métodos, fundações e reescrever do zero digitalmente. O resultado é uma companhia hoje 50 vezes maior do que quando esse processo começou. Não é uma coisa que você pegou e disse ‘ah, vamos informatizar a loja do Magazine Luiza.’ Não. Transformar a loja, transformar o vendedor. Transformar o digital do magalu. Transformar lojista. E aí você faz um negócio completamente diferente. Se o mercado entende ou não entende, isso é outro problema, completamente diferente. O erro que as pessoas podem incorrer com inteligência artificial é exatamente o de pegar os seus processos de negócios pré-IA e artificializar. Você precisa estar ciente que tem uma nova dimensão da Inteligência e começar do zero. E é muito difícil para as empresas pensarem. Se já foi difícil com a digitalização.. Mas se você não pensa a partir do zero, você continua executando no passado. Na vasta maioria das empresas contemporâneas, você não tem garantia para o ano que vem do orçamento que você teve no ano passado. Não pode ter, porque senão você não muda, você não vai atrás de melhoria de processo, você não vai atrás de mudança de nada. Então o que está acontecendo agora é uma mudança radical no contexto das inteligências, tem uma nova dimensão das inteligências, quem não tentar entender isso não vai sobreviver nos próximos 15 anos. Isso você pode escrever com todas as letras: ou as pessoas e as empresas entendem Inteligência Artificial como uma nova dimensão da inteligência, não como um conjunto de ferramentas, de plataformas de tecnologias, ou elas não vão sobreviver. Tem um ponto de partida aqui que foi a mudança de paradigma da tração animal para o motor a combustão. Você sabe quantas fábricas de carroças, carruagens e ônibus puxados a cavalo conseguiram com sucesso construir um automóvel, uma caminhonete e um ônibus movido no motor a combustão? Zero. Porque eles ficaram olhando para o motor e dizendo ah, mas esse negócio é barulhento, quebra muito, precisa de posto de gasolina. E o pessoal do motor a combustão foi lá devagarzinho, faz o motor um pouco melhor, faz o motor um pouco menos de barulhento, faz um motor que quebra menos, faz um motor que consome menos combustível, começa a instalar posto de gasolina… Essa transição levou cerca de 30 anos. Quando foi que a internet começou? 1995. Aconteceu tanta coisa de lá para cá que a gente pensa que foi em 1915. Mas foi em 95. No ano que vem a gente vai comemorar 30 anos da internet comercial. Mas ela só virou banda larga em 2005, a gente só tem smartphone desde 2007. Se a gente olhar, só tem 15 anos de internet de verdade, os próximos 15 anos que vão ser acelerados por Inteligência Artificial é que vão ser os anos de impacto mesmo da internet, porque aí o jogo vai mudar completamente. Quem ainda sobrevivia mesmo estando escondido da internet, da tecnologia da Informação em algum lugar, não vai sobreviver e isso é fato. Como já disse Peter Drucker, o objetivo final da inovação é sobreviver. Não é criar um produto, mudar processo, nada disso. É sobreviver.